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Itapira, 28 de Março de 2024 -
31/08/2021
Luiz Santos: Todo o Conselho de Deus

Paulo, o apóstolo dos gentios, no capítulo 20 de Atos dos Apóstolos faz uma declaração desconcertante. Ele declara em alto e bom som que está livre do sangue daqueles homens, pois havia pregado todo o Conselho de Deus. Muito possivelmente Paulo tinha em mente esta citação do Antigo Testamento: “Quando eu disser a um ímpio que ele vai morrer, e você não o advertir nem lhe falar para dissuadi-lo dos seus maus caminhos para salvar a vida dele, aquele ímpio morrerá por sua iniquidade; mas para mim você será responsável pela morte dele. Se, porém, você advertir o ímpio e ele não se desviar de sua impiedade ou dos seus maus caminhos, ele morrerá por sua iniquidade, mas você estará livre de culpa” (Ez 3.18,19). O contexto de Paulo é um discurso dirigido especialmente aos presbíteros das igrejas por onde ele esteve ou que eram fruto indiretamente de sua obra missionária e apostólica. Um detalhe interessante é que em todo o livro de Atos dos Apóstolos são raros os discursos de Paulo para uma audiência cristã. Ele prega em sinagogas, para os gregos, para os gentios nas praças e nós conhecemos muitos destes seus sermões. Entretanto, praticamente é aqui em Trôade e Mileto apenas que vemos Paulo se dirigindo primeiro a uma comunidade cristã reunida para partir o pão (At 20.7ss) e especificamente se dirigindo aos presbíteros, aos oficiais da igreja (At 20. 17ss). Claro que há registros de Paulo se dirigindo aos discípulos, mas esses dois episódios tipificam melhor a igreja: O partir do pão e uma reunião com instruções para os pastores, seus sucessores na obra do ministério. Paulo poderia ter dado muitas outras instruções de natureza prática e apresentado muitos outros exemplos seus em relação ao cuidado e a solicitude pelas igrejas. Contudo, o que governa o discurso de Paulo é o lugar que a Palavra de Deus deve ocupar na vida dos pastores. O Espírito Santo os consagrou como bispos para pastorearem a Igreja, devem vigiá-la para que homens perversos e suas perversas heresias não se intrometam na igreja; e como devem fazer isso? Expondo, ensinando com proveito as Escrituras (At 20.20). Devem ser dedicados, mais que isso, devem ser consagrados à Palavra de Deus (At 20. 32). Assim, fica tipificado que o ministério mais relevante e mais necessário à Igreja de Deus é a exposição das Escrituras. Evidentemente que a dinâmica da comunidade dos discípulos exige muitos outros serviços igualmente imprescindíveis. O serviço diaconal, por exemplo, é essencial para dar autenticidade à fé (Tg 2.26) e ao próprio entendimento que se tenha do Evangelho (At 20.35). No livro de Atos dos Apóstolos, o ofício diaconal nada mais é do que uma resposta de amor e um gesto concreto de justiça em defesa dos mais vulneráveis, naquele caso, as viúvas dos judeus de língua grega. Possivelmente outras demandas não registradas no texto se faziam sentir. Entretanto, uma leitura atenta e honesta indica que o diaconato surge exatamente para que a obra da pregação do Evangelho, o pastoreio efetivo e a vida de oração não se vissem de alguma maneira prejudicados: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.1-4). Por esse princípio estabelecido pelos Apóstolos, entendemos que o ministério da Palavra de Deus que envolve além da pregação expositiva, o ensino doutrinário e teológico, a catequese, o aconselhamento, também e mais especialmente, o cuidado com o culto divino. Assim como o diaconato, mais que um serviço social e caritativo, é uma resposta ao Evangelho e um ofício a serviço da Palavra de Deus, inclusive com o testemunho e o anúncio, como fizeram Estevão e Filipe, também o culto é uma realidade exigida da exposição das Escrituras. Toda pregação, bem como toda a Teologia tem como o seu fim último e inevitável a adoração, colocar o homem de joelhos, submisso, reverente e cheio de amor e zelo pela Trindade. Ao mesmo tempo, é a pregação das Escrituras que modela o culto em seus elementos e em algumas de suas formas. Não podemos inventar cerimônias ao nosso bel prazer, como culto das chaves, bênção de utensílios, culto de libertação, da fogueira santa e etc. Não podemos cantar também qualquer coisa. Se formos honestos, intelectualmente honestos, algumas canções seculares rendem mais glória ao Criador do que alguns (muitos) hinos da cultura gospel, narcisista, egolátrica e claro, sem o Evangelho cristão. Se você prestou bem a atenção no capítulo 20 de Atos a partir do versículo 17, Paulo está falando especificamente para os Presbíteros. Não é um bate papo. Não é uma troca de experiências ou de ideias. É uma exortação com base na Palavra de Deus. Assim, não há justificativas, é nosso dever como presbíteros zelar para que o anúncio de todo o Conselho de Deus reforme, restaure e dê vida e vida frutuosa na Igreja de Jesus. Não há outro caminho.

Reverendo Luiz Fernando, por misericórdia de Deus, é pregador na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.



Fonte: Luiz Santos

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