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Itapira, 28 de Março de 2024 -
22/03/2021
Luiz Santos: Triunfante

A economia litúrgica da igreja cristã chama o “Domingo de Ramos” de “Domingo da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém”. Alguém poderia pensar, e com razão, que a liturgia estivesse se referindo ao acontecimento em si, que foi mesmo apoteótico. Jesus entra na Cidade Santa aclamado como Rei e identificado por muitos como o Rei-Messias. As pessoas soltavam gritos e aclamações em louvor e saudação a Cristo e muitos espalhavam ramos e peças de roupa pelo chão, fazendo como que um tapete real para o solene desfile do sucessor de Davi. Todavia, desde sempre a Igreja reconheceu no domingo que antecede a ressurreição como o início das dores do Salvador, é o início da semana santa ou semana da paixão, cujo clímax é a crucificação. Então, domingo em que Jesus entra em Jerusalém entre ‘hosanas e aleluias’, aclamado como Rei, é, na verdade, quando a temperatura das suas humilhações começa a subir. Aumentará a tensão com as autoridades religiosas dos judeus, Judas se esgueirará nas sombras para pactuar a traição a Jesus e Ele mesmo [Jesus], se sentirá como rei rejeitado e chorará a insensibilidade dos habitantes da Cidade Santa por não o reconhecer, nem o receber. Então, o que há de ‘Triunfante’ nesse episódio de Ramos? Desde domingo até sexta-feira 14 de Nisã, a angústia de Jesus irá aumentando a cada momento e, no final da história, a cruz destroçará qualquer expectativa humana de triunfo. Entretanto, a Bíblia parece ter um enredo que permeia toda a sua narrativa. Antes de uma grande bênção, sempre haverá um tempo de provação, de teste, de humilhação como que preparando os homens para receberem com o devido reconhecimento valor e gratidão a benfeitoria graciosamente recebida. Graciosamente na máxima acepção da palavra, isto é, um dom, uma dádiva, uma graça imerecida, inesperada, até. Assim, o que é ‘Triunfal’ é o que acontece quando o enredo chega ao fim e o que acontece é inesperado, inescrutável, a ressureição de Jesus. Depois da traição, do abandono, do julgamento injusto, da rejeição por parte do seu povo, da humilhação sofrida nas mãos de bárbaros, desfilar quase nu pelas ruas carregando às costas a suprema ignomínia da cruz e ser crucificado entre ladrões, Jesus triunfantemente ressuscitou! Não havia ninguém na Terra que esperasse por isso. Alguns, claro, haviam sido informados que isso aconteceria, mas seus corações estavam por demais embrutecidos pela violência sofrida pelo mestre. Seus olhos e seus sentimentos estavam por demais embotados para enxergar a verdade. Prova disso é que as mulheres se dirigem ao túmulo e não levam roupas novas na expectativa da sua ressurreição, não. Vão para embalsamá-lo. Os amigos de Emaús dão as costas para Jerusalém e destruídos, animicamente falando, tentam juntar os cacos de suas expectativas quebradas e tentam recomeçar a vida sem Jesus. Sem falar nos discípulos trancafiados por medo, e especificamente de Tomé, que de tão confuso, sabe-se lá aonde deve ter ido chorar as suas mágoas. Ninguém, humanamente falando, estava esperando a sua ressurreição, não conscientemente. E não é que triunfalmente Ele se revela às mulheres, triunfalmente se revela aos discípulos na ceia de Emaús e triunfantemente entra no recinto de portas e janelas fechadas onde os discípulos estavam? E assim, de triunfo em triunfo, durante quarenta dias foi dando inúmeras provas de sua vitória sobre o pecado, o mal e a morte. Podemos tirar uma grande e contextualizada lição deste dia de Ramos, da Entrada Triunfal de Jesus em Jerusalém. Desde março de 2020, com a Pandemia, a quarentena se nos tornou uma longa quaresma. Estamos todos na expectativa que logo amanheça o dia que ponha fim a esta onipresença da morte e de mortos contados aos milhares a cada dia no mundo. Estamos desejosos e necessitados de que a vida ‘ressuscite’. E que lição seria essa? A de entrarmos com Jesus nas dores e na paixão do mundo. De irmos como Igreja ao encontro das agonias dos homens e mulheres nesses dias difíceis, levando conosco a palavra do Evangelho, a mensagem de que a morte, a dor, a enfermidade não tem a última palavra. É necessário entrar nessa economia litúrgica da semana das dores e dizer aos homens e mulheres deste tempo que um tempo de graça, um tempo de bênçãos está sendo gestado no coração do Pai. É nosso dever como comunidade de Jesus dizer a todos que mesmo os que tombarem nesses dias pandêmicos, nos inescrutáveis caminhos do Senhor, não permanecerão na morte, se adormecerem em Cristo, com Cristo triunfalmente serão ressuscitados. Entrar com Jesus em suas dores é desde agora ter a promessa que a agonia terá fim e a manhã da ressurreição Já nos está reserva, e isso é triunfal!

 

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira



Fonte: Luiz Santos

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