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Itapira, 28 de Março de 2024 -
28/12/2020
Luiz Santos: Cristo para as nações

A solenidade da Epifania é uma das festas cristãs que mais dizem respeito a missão da Igreja no mundo. Os sábios que cruzaram as areias escaldantes do deserto, guiados pela estrela, manifestaram a Herodes o motivo daquela jornada: viemos para adorar o Rei que acaba de nascer. Desde muito cedo os pais da Igreja viram na figura dos sábios (também cognominados magos), uma antecipação da universalidade da mensagem cristã. Cristo não nasce exclusivamente para os judeus. É fato que veio para o que era seu, como afirma João, mas os seus não o receberam. Contudo, a igreja que nasce entre os judeus e deles retira a semente da nova humanidade, em Pentecostes e de maneira especial na missão de Paulo, se abre para acolher em seu seio homens e mulheres de todas as raças, tribos, etnias e línguas sob o sol. Os sábios do oriente prefiguram a mensagem de Cristo como o esperado das nações e o salvador do mundo inteiro. Temos sempre que ter o cuidado em afirmar que universalidade da mensagem não é o mesmo que universalismo. Este último erroneamente ensina a salvação de todos sem a reprovação de ninguém. Não é isso que essa solenidade celebra. Cristo veio para buscar e salvar o povo eleito e essa eleição não se restringe ao exclusivismo dos judeus, mas se estende a todos povos, dentre os quais o sangue de Cristo comprou a muitos, não, porém a todos. Muitos de toda raça humana, a despeito de seu contexto cultural, de sua realidade geográfica ou condição econômica, foram e são ainda hoje trazidos pela manifestação da graça salvadora de Deus em Cristo Jesus e passam a fazer parte da família dos filhos de Deus. Entretanto, a solenidade da Epifania é um encorajamento à Igreja para que se reconcilie com a sua catolicidade e a sua missionariedade. É uma oportunidade para que a Igreja local repense a sua função no mundo. Nesses dias de polarização radical, intolerância de toda ordem, de aumento da cultura da exclusão e de enfrentamento, essa festa litúrgica nos recorda os braços de Cristo na Cruz revelando a disposição de acolher, sem condições prévias, julgamentos temerários ou qualquer tipo de acepção, aqueles que dele se aproximam com fé sincera. Cristo nunca lança para longe de si aqueles que se atiram aos seus pés, como a mulher flagrada em adultério, ou os que se rendem a ele, como o ladrão crucificado ao seu lado. A Igreja local para cumprir bem a sua condição católica e a sua vocação missionária deve conscientemente lutar contra o racismo estrutural que está presente nela também. Talvez não tão evidente como flagramos, mas insuspeitamente escondido em muitos corações. Deve posicionar-se contra o feminicídio e não tolerar nenhuma forma de discriminação da mulher e ensinar as verdades bíblicas do ‘complementarismo’ sem nota alguma de desmerecimento da condição criatural de sua auxiliadora idônea. Também às variadas manifestações de identidade sexual presentes na sociedade, não cabe a Igreja estabelecer um tribunal e simplesmente execrar essas pessoas por sua orientação. Conquanto nenhuma verdade da Palavra de Deus possa ser diminuída ou negociada no que diz respeito à sexualidade humana, apresentar Cristo e seu Evangelho, demonstrar respeito, empatia, compaixão e amor cristão é o único modo eficaz para tornar o Evangelho poderoso para enfrentar fortalezas intelectuais e forças culturais dominantes. Mas, a Igreja local não pode mirar e gastar todos os seus recursos em seu contexto. Sim, é a partir dele sem nunca perder de vista ‘os confins da terra’. Não podemos nos esquecer das nações sem Cristo. Sejam aquelas nações sob o jugo de sistemas políticos de ateísmo confessional, restam poucas no mundo, mas uma significativa parcela da humanidade, como China, Coreia do Norte e outras repúblicas satélites do antigo regime soviético. Sejam aquelas sob o jugo islâmico, hindu ou animista, que formam com Índia, quase a totalidade do Oriente Médio, e África outro enorme contingente humano necessitado e à espera da manifestação da graça salvadora de Cristo. E sejam as nações descristianizadas e secularizadas do ocidente, França, Suécia, Espanha, Inglaterra, Holanda, Estados Unidos e Canadá. Algumas dessas nações já foram um dia o berço do cristianismo, da cristandade e da tarefa missionária. Muitas dessas sucumbiram ao iluminismo, ao secularismo, ao materialismo, ao consumismo, ao socialismo e a muitas outras forças culturais poderosas. Cristo é apenas um registro histórico, e pela força de muitas releituras desonestas e condicionadas por ideologias sinistras, uma lembrança que fazem de tudo para sepultar em seus corações. Países como Itália e Portugal, por exemplo, a despeito de seu passado católico, hoje abrigam mais feiticeiros, bruxos e sacerdotes de outras religiões do que padres e pastores. Sem falar nas crescentes marcas da presença islâmica em muitos países que um dia sustentaram o lema da reforma ‘Post tenebras, lux’. A igreja local deve sentir-se responsável pelo anúncio do Evangelho também nesses contextos acima delineados. Deve assumir como parte integrante de sua missão, de sua visão, do seu orçamento e do treinamento dos seus membros. Que a solenidade da Epifania nos abra à tarefa de fazer Cristo se manifestar a todos os povos.

Reverendo Luiz Fernando dos Santos é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.



Fonte: Luiz Santos

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