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Itapira, 29 de Março de 2024 -
31/03/2020
Luiz Santos: Tempo de Alegria

Eu sei muito bem que o título desta pastoral parece estar descolada da realidade, mas, só parece mesmo, porque não está. Vendo os telejornais (de todas as emissoras), sei que humanamente falando, não há espaço para a alegria. A contagem dos corpos no mundo inteiro só faz aumentar, as horríveis imagens dos caixões nas igrejas italianas ou os corpos “empilhados” em caminhões refrigerados na Espanha e Estados Unidos, são de dar calafrios na alma. Sem contar a iminente tragédia humanitária das comunidades e favelas no Rio de Janeiro e São Paulo, sem as mínimas condições adequadas de saneamento, fundamentais nessa hora, e sem condições financeiras para fazer a devida manutenção do isolamento social. Essas realidades fazem abater a alma até o pó, impossível não se sensibilizar, não condoer-se por elas. Todavia, os cristãos são chamados nesses dias de crise, pânico e incertezas, sem jamais descolar-se da realidade, a apegar-se sempre e cada vez mais à sua condição de nova criatura e à sua vocação escatológica. Isso começa por ouvir Paulo exatamente em um contexto de dúvidas e medos quanto ao futuro definitivo: “Estejam sempre alegres. Orem sem cessar. Em tudo, deem graças, porque esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (2Tes 5. 16- 18 NAA). O que o apóstolo dos gentios tem a nos ensinar a partir desta sua sentença? Em primeiro lugar temos que definir esta ‘alegria’. A sua origem, bem como a sua natureza diferem e muito da alegria desejada e vivida pelo mundo. Existe um tipo de alegria que está encerrada sob a providência geral de Deus no que diz respeito à graça comum. Dela participam todos os homens indistintamente. Está ligada à bondade espargida por toda a criação e que se reflete nas relações humanas, na arte, na tecnologia, no entretenimento, no desfrute dos alimentos e tantas experiências lícitas que abençoam os homens. Há uma ‘falsa’ alegria originada no pecado e que está relacionada com a concupiscência dos olhos, da carne e a soberba da vida. De certa maneira todos os homens também dela participam, uns como escravos rendidos, outros como livres, mas ainda tendo que lutar contra as suas influências, porém, em tudo, vitoriosos sobre elas. Essa alegria falsa está nos exageros e compulsões da carne, na quebra da Lei Moral, na vindicação de plena autonomia humana em face da vontade de Deus e etc. E, existe esta alegria de que fala Paulo. Uma alegria espiritual, cuja a natureza e a origem estão em Deus e nos é comunicada pela habitação do Espírito Santo em nossos corações. Esta alegria que não pode ser produzida por nenhuma realidade da criação e que não pode ser adquirida de nenhuma maneira pelo esforço humano, é um dom da graça, um fruto do Espírito Santo no coração crente, salvo e purificado no sangue de Jesus Cristo. Em dias como os nossos, essa alegria nos livra da ansiedade que enlouquece, do medo que paralisa, do sentimento de impotência que rouba a paz e de comportamentos reprováveis e temerosos. A alegria do Espírito diz respeito ao fato de que em tempos de crise, apesar de não compreendermos bem todas as coisas e serem os caminhos de Deus inescrutáveis, ainda sim, estamos satisfeitos com a sua vontade prevalecendo na história. Vontade que é sempre boa, perfeita e agradável (Rm 12.2). Isto significa que estamos contentes com a condução dos fatos e da história, ainda que jamais possamos nos eximir de nossas responsabilidades como discípulos em missão no mundo. Esse contentamento não é passivo ou alienante, antes ele é encorajador, porque tendo a firme convicção de que se o Senhor está no controle, podemos agir, devemos agir, devemos lançar mão de todos os meios legítimos e próprios, na esperança de vitória e ela virá. Essa alegria nos livra do espírito de derrotismo e nos dá entusiasmo para nos envolver na luta, nos dá energia para resistir nos dias difíceis e nos enche de paz e consolação nos dias mais tristes. A alegria do Espírito Santo é cheia de sabedoria e conforme a prudência, nos livra de palavras e gestos irresponsáveis que possam induzir os outros ao erro ou a agir temerariamente. Porque a alegria espiritual é como o amor, nunca se conduz inconvenientemente (1Co 13.5). Nesses dias de pandemia, o antídoto para as pressões do isolamento social, o remédio para os temores e pavores das horas que passam e arrastam os terrores da morte consigo, a âncora que firma a barquinha frágil de nossas vidas nessa hora de mar revoltoso para a humanidade, é a alegria do Senhor. A satisfação n’Ele, a confiança n’Ele, a experiência d’Ele em nós por meio do seu Espírito Santo. Que a alegria do Senhor seja a nossa força. (Ne 8.10).

Reverendo Luiz Fernando é Pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.



Fonte: Luiz Santos

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