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Itapira, 25 de Abril de 2024 -
19/10/2014
Paolo Colosso: Será como cinto e capacete

No livro Cidade para Pessoas Jan Gehl relata sua experiência na requalificação urbana de grandes capitais. O urbanista defende que as cidades nas quais atuou – Copenhagen, Melbourne, São Francisco entre outras -- não equacionaram o tráfego de um dia para o outro, tampouco criaram mais e mais vias para automóveis. Gehl defende que suas propostas foram no sentido contrário, isto é, restringir os espaços de automóveis no centro, fortalecer a rede do transporte público, criar passeios agradáveis para pedestres e preparar a cidade para as bicicletas. Não por acaso atualmente em Copenhagen, uma cidade fria na Dinamarca, 40 % de todos os deslocamentos são feitos em bicicleta. A cidade tem uma das melhores infraestruturas de ciclovias e é um modelo internacional. As reflexões de Gehl reforçam, a meu ver, o que mencionei há algum tempo: o urbanismo não é somente o esforço de organizar a estrutura física da cidade, mas sobretudo uma força de reorientação sociocultural. Isto implica mudanças nos padrões de comportamentos coletivos.

  É de se esperar que algumas parcelas da população vejam a implementação de vias e áreas para pedestres, para transporte coletivo e para bicicletas sejam vistas como incômodo, como saída precipitada ou como investimento inútil. Certamente haverá forças que resistirão com opinião formada, pois as coisas como estão hoje coincidem com a zona de conforto de muitos. Provavelmente, muitos dos resistentes estarão entre aqueles cuja autoestima se assenta na coleção de SUV´s e esportivos. Por outro lado, a adesão certamente virá de camadas de trabalhadores cuja vida cotidiana é menos estabelecida no domínio do privado, mas mais na sociabilidade e, ainda, daqueles para quem as mudanças trarão benefícios imediatos – digo imediato porque em última instância estas mudanças serão positivas para todos. As mudanças também contarão com a juventude, aqueles que ou se excitam com o novo ou já eles próprios ditam essas tendências (pesquisas mostram que jovens se interessam menos por automóveis do que por outros equipamentos eletrônicos).   Ainda que as mudanças exijam esforços, algum tempo depois reconhecemos a necessidade destas. Não faz muito tempo, era permitido andar de moto sem capacete; cinto de segurança era algo pouco cobrado. Quando foram exigidos, multas aplicadas sistematicamente, não houve quem não reclamou. Hoje já nos acostumamos com o cinto e com o capacete. Com as mudanças na mobilidade acontecerá parecido.   Paolo Colosso é arquiteto, tem graduação em Filosofia pela Unicamp. Atualmente faz mestrado no departamento de Filosofia da USP, onde estuda cultura urbana em metrópoles contemporâneas

Fonte: Paolo Colosso

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